“Sê fiel até a
morte, e dar-te-ei a coroa da vida.” (Apocalipse 2:10)
Eu
me converti a Cristo no início da década de 80. Este foi um período marcado por
muitas especulações acerca do fim do mundo e da volta de Jesus, embaladas pela
popularidade do livro de Hal Lindsey, “Agonia do Grande Planeta Terra”, em que
ele oferecia um cronograma detalhado dos últimos dias do mundo, o que segundo
ele aconteceria em pouquíssimos anos.
Praticamente
no país inteiro, o assunto mais popular nas igrejas era acerca do arrebatamento
iminente da igreja. Discutia-se acerca dos sinais e das evidências que cada dia
parecia mais abundante. Naqueles dias, se um pregador quisesse fazer sucesso,
bastava incluir na sua agenda de pregações uma mensagem acerca do arrebatamento.
Se ele tivesse um seminário de vários dias sobre os últimos tempos e o
Apocalipse, seria reputado como especialista em escatologia.
Como
novo convertido e ávido por aprender as coisas de Deus, eu comia e bebia
abundantemente de qualquer fonte que pudesse me esclarecer os mistérios da
Palavra de Deus. Cheguei a decorar nomes de povos e de lugares, detalhes
históricos; sabia de cor os nomes dos dez países que fariam parte do Mercado
Comum Europeu, que seria a sede do governo da besta e do seu anticristo.
Mas
havia algo que não me dava paz. Cada vez que um pregador falava sobre o
arrebatamento, ele sempre terminava com um apelo manipulador, induzindo medo
nas pessoas, colocando sobre elas o peso de que se elas não estivessem
perfeitas no momento do arrebatamento elas seriam deixadas para trás. Consigo
lembrar claramente as muitas vezes em que ouvi nesses apelos a pergunta: “Se
Cristo voltar esta noite, você está preparado?” (Engraçado, para estes
pregadores Cristo sempre volta à noite…)
Eu
sempre ia dormir com o coração pesado, pois tinha a desagradável sensação de
não ser suficientemente perfeito para ser arrebatado. Após essas pregações
passava dias sobressaltado com medo de ser deixado para sofrer nas mãos do
Anticristo. Eu orava pedindo a Jesus que adiasse a sua volta até que eu
conseguisse me aperfeiçoar.
O
tempo foi passando, aquela sensação de inadequação persistindo, mas eu fui
percebendo que algumas coisas que eu acreditava que deveriam acontecer não
estavam acontecendo. Quando o Mercado Comum Europeu chegou a 12 países, e havia
planos de aumentar transformado-se em Comunidade Europeia, eu percebi que
alguma coisa estava errada naquilo que eu cria. Comecei a perceber que havia
fundamentado a minha fé em um sistema imperfeito. Durante algum tempo fiquei
sinceramente perdido sobre o que eu deveria crer em relação aos últimos tempos.
Um
dia, lendo o Apocalipse, observei uma frase que Jesus disse para uma das
igrejas. Ele terminou seu discurso dizendo: “Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a
coroa da vida” (Apocalipse 2:10). Neste dia eu tomei a decisão de não mais me
preocupar com o futuro, no sentido de ficar olhando por sinais que me avisassem
se a volta de Jesus está próxima ou não. Eu orei pedindo a Deus que me
capacitasse a permanecer fiel independentemente das circunstâncias. Depois
disso fiquei anos sem ler ou estudar qualquer coisa que se referisse a
escatologia. Saiu de meus ombros o peso que sentia pela sensação de não estar
pronto. Sabia que o que eu precisava fazer era andar em santidade e procurar
crescer a cada dia em comunhão com Deus.
Ontem,
lendo Atos dos Apóstolos percebi que essa foi justamente a atitude que o Senhor
Jesus esperava dos seus discípulos (Atos 1:4-6). Ao ordenar aos discípulos que
fossem para Jerusalém e lá esperassem a descida do Espírito Santo, estes lhe
perguntaram se nesta oportunidade ele restauraria o reino político de Israel.
Jesus, porém, diz aos seus discípulos que não competia a eles se preocuparem
com os tempos que estavam reservados a Deus. Ou seja, os discípulos deveriam
preocupar-se em obedecer a Deus e deixar a cargo de Deus a responsabilidade de
administrar o tempo em que as coisas deveriam acontecer.
Em
relação ao futuro, a nossa única responsabilidade, como discípulos de Jesus, é
a de obedecer ao seu último e expresso mandamento, que nós chamamos de a Grande
Comissão: “Ide por todo mundo e fazei discípulos de todas as nações,
ensinando-os a guardar todas as coisas que vos tenho ensinado”. Ponto.
Ainda
hoje eu vejo muitas pessoas, igrejas inteiras até, escravizadas pelo medo de
serem surpreendidas em um momento em que elas não estão prontas. Uma das
tarefas do Espírito Santo é, justamente, a da santificação. Se nós permitirmos,
ele agirá em nós transformando-nos cada vez mais a imagem de Cristo, e nos
preparando para o grande dia quando nós veremos o nosso Senhor face a face.
Não
precisamos temer este dia, pelo contrário, devemos desejar ardentemente que
este dia chegue o mais rápido possível.
"Portanto santificai-vos, e sede santos, pois eu sou o SENHOR vosso Deus" (Levíticos 20:7).